30.8.08

SARAU



Na última sexta-feira (29/08), prestigiei o II Sarau da Confraria Tucuju, realizado no Largo dos Inocentes, atrás da Igreja de São José de Macapá.
Fiquei muito satisfeito.
Poesia, música, artesanato, exposições de Artistas Plásticos, folclore, livros, enfim, a arte produzida por artistas Macapaenses mostrou sua cara e deu seu recado. E que recado!
Comprei o livro do Poeta amapaense Manoel Bispo, “Palavras de Festim”. Um belo trabalho poético. Lembrou-me Leminsk (desculpem, mas não estou comparando, Bispo brinca com a grafia / imagens na poesia), poemas curtos, inteligentes e sem apego a formalismo.
Li o livro e gostei.
Em tempos de baixa auto-estima, os artistas amapaenses estão de parabéns!
Até voltei a sentir orgulho daqui.

Trechos de poemas de Manoel Bispo:

“Joguei meu verso
pra cima
caiu n´água e molhou a rima”

“Não é por estar
na tua ausência
mas você me dá uma saudade”

27.8.08

Eleições 2008 - Macapá


Tentei acompanhar alguns dias de propaganda eleitoral, especificamente para Prefeito.
Nada mudou.
Os candidatos são os mesmos de sempre.
Poucos se arriscam a inovar o discurso.
A produção de campanha fala por eles.
Música de fundo triste... Histórias de vida sofrida....
Discurso batido de pretensa ‘renovação’... Tudo igual.
Quando o candidato é homem, diz que lutará para mudar Macapá.
Se mulher, diz que, pela ‘força da mulher’, lutará também.
Fiquei logo sem paciência.
São políticos profissionais previsíveis.
Marqueteiros defasados.
Enquanto isso, a cidade... vou parar.
Acho que me contaminei, estou no mesmo discurso.
Como disse minha filha de 5 anos:
“Tenho pena de Macapá”.

19.8.08

Nostalgia

As portas largas disfarçam bem a sala estreita, característica comum dos prédios e casas geminadas do bairro. No rés do chão, a barbearia há décadas instalada no mesmo local, experimenta uma tarde longa e preguiçosa.
"Quanto é o cabelo?" Ao que se responde prontamente quatro reais. Aqui as dualidades fazem sentir sua presença: os dois espelhos miram as cadeiras correspondentes que se amoldam bem ao corpo dos fregueses. Os gostos dos barbeiros estão na parede revestida até o meio de azulejos amarelo-esmaecido, com o caiado desbotado indo até o teto de forro branco. De um lado, a gravura de uma tourada em seu ápice, quando o caudilho, prestes a imolar sua vítima, suspende a platéia, que naquele segundo estende seu olhar ao animal valente e altivo, mas entregue e sem esperança. De outro, o clássico, o correto que se escolhe sem riscos de erro: O barbeiro de Sevilha em sua cena maior quando entoa o Fígaro. Os tons pastéis do cenário dão desenvoltura à figura do homem corpulento que se destaca ao centro da tela.
Entre as bancadas, o toca-fitas estribila uma sucessão de boleros.
"Essa é que é a música boa. Música não, Melodia; que música e barulho estão aí a dar na canela."
Escolhendo a tesoura certa, o barbeiro da esquerda concorda e dispara "grande época que não volta mais. Lembro das noites agitadas, mas que não davam medo, a gente saía, procurava as pernas das pequenas e voltava bem pra casa."
Ao que da direita emenda: "Conheceste o 'Brilhantina'?", recebendo olhares brilhantes e positivos do colega e do freguês. Encorajado, continua citando o 'Capistrano' o 'Bolero da 28', os arraiais festivos da época do Círio. De imediato, um tanto contrariado (e recebendo apoio dos interlocutores), lembrou do 'Lapinha'. "Lá começou a decadência", foi dito quase em uníssono.
"Tinha muita briga, mas nada de tiro", o freguês constatou. Com jeito de filósofo provocador afirma que "hoje em dia se dança a um metro um do outro"; e me fitando com o canto do olho. Na boca, o riso fino de quem tem anos de experiência.
O da direita, ajustando a lâmina da navalha calmamente, como que perseguindo milimetricamente o passado, decreta: "As damas adoravam o bailado; saíamos feito doidos atrás dos cheiros, dos pescoços, dos beijos..."
"É, não tinha facilidade, mas de vez em quando a gente encontrava boas moças. Moças que davam... se bem que os quartos eram uma merda", falou o da esquerda.
"Não, não, hoje em dia é bom, hoje em dia tem tanto lugar pra deitar que nem presta" diz o freguês, "que a AIDS brinca de pira".
Ao que todos concordam e, um tanto pesarosos, debatemos que quem vê cara não vê coração e coisas do gênero.
Olhando para a rua, o da direita ajeita os óculos, olha para mim, dizendo "nesse tempo não tinha tanto 'rendez-vous'; se fazia mesmo na rua, no escuro. Aquele medo, os olhos abertos e a respiração mais que ofegante. No máximo a gente levava pra casa uma gonorréia, doía..."
Encarando o infinito, completou: "Eu tinha 16..." E suspirou um ar tão longo e lento, que a tarde parou.

14.8.08

Bucolismo




Vai diminuindo a cidade

Vai aumentando a simpatia

Quanto menor a casinha

Mais sincero o bom dia


Mais mole a cama em que durmo

Mais duro o chão que eu piso

Tem água limpa na pia

Tem dente a mais no sorriso


Busquei felicidade

Encontrei foi Maria

Ela, pinga e farinha

E eu sentindo alegria


Café tá quente no fogo

Barriga não tá vazia

Quanto mais simplicidade

Melhor o nascer do dia

(John – Simplicidade, Pato Fu)

Algodoal é assim.
Divagar é preciso.

9.8.08

Todas as Solidões do mundo

Foi uma notícia na www.bbcbrasil.com que me deixou pensativo. Dizia mais ou menos assim: "Corpo de inglês é encontrado na cama 2 anos após sua morte. O corpo de um aposentado inglês ficou dois anos deitado sobre sua cama até ser descoberto pela polícia em sua residência, na cidade de Huncoat, no noroeste da Inglaterra, depois que os vizinhos reportaram sua ausência."
O texto continuava, dizendo que o cara era muito recluso e por isso a vizinhança demorou para notar a sua ausência, e que estimaram o tempo da morte pela data das primeiras correspondências que se acumulavam em sua porta.
Bem, passei estes dias me perguntando, até que ponto podemos nos isolar, e sozinhos, quem realmente se importa? Tudo, nesta minha caraminhola, girava em torno do medo. É, medo de tudo, da morte, do entorpecimento, da solidão...mas principalmente da frustração.
Penso que o medo da solidão é superado somente pela terror de sermos contrariados em nossos sonhos e esperanças. Digo isto porque a vida é feita de aventuras, de apostas em que devemos nos lançar no vazio e alcançar no escuro o outro lado; ou não! Daí que a negativa às perguntas, a constatação de que o bilhete da loteria não foi sorteado nos faz tornar reclusos, incapazes de tentar qualquer coisa que seja. Então, a opção é ser eremita em pleno século 21.
Isto me preocupou mais ainda. Há eremitas entre nós que, contrariando todas as probabilidades se fazem passar despercebidos. Culpa nossa, insensíveis ao que é comezinho, ou vergonha deles, medrosos seres que não se alinham aos humanos?
E, meu Deus (!), que sociedade é essa, que bairro estranho em que não há uma vizinha fofoqueira. Salve, vizinhas Fifis do meu Brasil varonil.

5.8.08

Carta de amor e de ódio e outras histórias

"Dizem dele que, certo dia, ao rezar a missa ainda pelo ritual pré-concílio, em latim e de costas para a assembléia, na hora exata em que, depois de consagradas as espécies e quando, concentrado, elevava bem alto a partícula contendo o Corpo de Deus, pressentiu certa comoção inusitada entre os fiéis. Olhando de esguelha por sobre o ombro esquerdo, viu um negrinho trajando um uniforme camuflado em frangalhos, os pés metidos em coturnos de pára-quedista. Na cabeça ostentava um chapéu tipo australiano, daqueles em que a aba é abotoada à copa no lado direito. Armado com fuzil automático Kalashnikov, na cinta uma pistola Glock 9 milímetros, dois cintos-cartucheira abarrotados de munição atravessados em “x” ao peito, o guerrilheiro postara-se ao centro da nave, a olhar em torno de si com ar de profundo deboche. Os fiéis, ajoelhados e de cabeça baixa, evitavam fitar o homem armado e davam mostras de estarem apavorados, fingindo-se inteiramente concentrados no rito litúrgico."

Autoria: Rui Guilherme, Editora Cejup, p. 35;

2.8.08

Entrando na brincadeira

"E aí, de repente, pensei uma coisa. uma coisa enorme. uma coisa maravilhosa. "Vovê quer me ajudar?" "Perdão" "Com a chave." "Ajudar você!" "Você poderia andar por aí comigo." "Você quer minha ajuda!" "Sim." "Bem, eu não preciso da caridade de ninguém!" "São nunca", falei pra ele. "Você é obviamente muito esperto e sábio, e você sabe uma montanha de coisas que eu não sei, e também o simples fato de ter uma companhia é bom, portanto diga que sim, por favor."
Do livro; Extremamente alto & incrivelmente perto, de Jonathan Safran Foer, Ed. Rocco.

Quase que não sai post

kkkkkkkkk,

Pela terceira vez tentei postar um texto neste blog. Mas a minha inapetência foi preponderante. Todas as oportunidades em que iria concluir, apertei algum botão que apagou tudo (e não era o delete).

Enfim, estou aqui pra falar de tudo. PT saudações. Pra complicar, meu filho tá em cima de mim, batendo no teclado.

De inicio, proponho uma brincadeira, que não é nova, já rolou em outros blogs, como no belíssimo pensarenlouquece.com. Toma-se o livro que estamos lendo no momento e, em determinada página, transcrevemos determinado parágrafo.

Como exemplo:

"Eis os pôncios e, apesar de de ter lido a respeito, nossos amigos não cessavam de examinar com olhos curiosos aqueles seres de pernas retas sem articulações nos joelhos, que caminhavam de maneira firme, apoiando no chão os cascos eqüinos. Mas, no que diz respeito aos homens, faziam-se notar pelo falo, pendurado no peito, e quanto às mulheres, na mesma posição, a vagina, que porém não se via, pois costumam cobri-la com um xale amarrado atrás das costas. A tradição dizia que eles criavam cabras com seis chifres e, de fato, eram alguns daqueles animais que estavam vendendo no mercado."

Este trecho é do psicodélico "Baudolino" de Umberto Eco, página 429, terceiro parágrafo.

W.Leão, Smith, quais os livros que estão lendo? transcrevam uma página a esmo, terceiro parágrafo, como eu fiz. Os leitores (!?) estão convidados.

Abraço.

1.8.08

Malvados

No mês de julho, André Dahmer recebeu o prêmio de melhor ‘web quadrinhos’ por "Malvados", na 20º edição do Troféu HQMix ocorrida no Sesc Pompéia em São Paulo.
Na minha opinião, Dahmer é um gênio dos quadrinhos. Criador de tiras de humor (muitas vezes humor-negro) inteligentes, ácidas e polêmicas. Três quadros bastam para provocar o leitor. “Malvados” é um sucesso absoluto na internet. A sensação que transmite é, realmente, de que “cada tirinha é um tapa na cara”.
Por falar em tapa, achei muito boa essa tira, serve para blogueiros capitalistas, não que eu não seja um. Falo de capitalista, claro, pois, blogueiro, sou arremedo.